VÍDEO: maior que a de Bolsonaro, prisão de Anderson Torres na Papudinha tem 54 metros quadrados e área externa
27/11/2025
(Foto: Reprodução) Veja detalhes da cela de Anderson Torres na Papudinha, em Brasília.
O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nesta quinta-feira (27) informações adicionais e um vídeo sobre a sala de Estado-Maior onde o ex-ministro Anderson Torres, condenado no núcleo crucial da trama golpista, começou a cumprir pena na terça (25).
A sala fica no prédio do 19º Batalhão de Polícia Militar do DF, no Complexo Penitenciário da Papuda – apelidado de "Papudinha" ao longo das últimas décadas.
Segundo o STF, o espaço é pensado para abrigar até quatro pessoas, mas será usado apenas por Anderson Torres para atender à classificação de uma "sala de Estado-Maior".
O espaço tem área total de 54,7 metros quadrados, incluindo 10 metros quadrados de área externa. Além de quarto e banheiro, há uma sala, uma cozinha e uma lavanderia.
A cela é maior que a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem 12 metros quadrados aproximadamente. Bolsonaro está preso em uma sala de Estado Maior na Superintendência da Polícia Federal, também em Brasília.
Cela onde Anderson Torres vai ficar na Papudinha em Brasília
STF/Divulgação
Segundo o STF, a sala oferece:
geladeira;
chuveiro com água quente;
armários
cama de casal;
TV.
Enquanto estiver na Papudinha, Anderson Torres terá direito a cinco refeições diárias: café da manhã, almoço, lanche, jantar e ceia. A PM já tinha adiantado que o cardápio será diferente do oferecido aos demais ocupantes.
"O banho de sol é feito na área externa da cela, permitindo inclusive a prática de exercícios físicos, com total privacidade e sem controle de horário", detalhou o STF.
"Há posto de saúde com dois médicos clínicos, três enfermeiros, dois dentistas, um assistente social, dois psicólogos, um fisioterapeuta, três técnicos de enfermagem, um psiquiatra e um farmacêutico", lista o tribunal.
A Papudinha, assim como os prédios do complexo da Papuda, ficam a pouco mais de 8 km da UPA de São Sebastião, unidade pública mais próxima; e a cerca de 16 km de hospitais particulares com o Sírio Libanês e o DF Star.
Infográfico - Infográfico - Mapas mostram localização dos presos e condenados pela trama golpista.
Arte/g1
Único condenado na Papuda
Dos oito réus condenados em definitivo pelo STF por integrarem núcleo crucial da trama golpista, apenas Torres foi enviado para a Papuda. O restante cumpre pena em outras instalações civis e militares no DF e no Rio de Janeiro (veja detalhes abaixo).
Torres foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro – e, em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria de Segurança do DF dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro.
Como chefiou forças de segurança ao assumir esses cargos, Torres tem direito a uma cela especial, como as chamadas "salas de Estado-Maior".
Relator do inquérito, o ministro Alexandre de Moraes determinou que ele comece a cumprir os 24 anos de prisão em uma dessas salas no 19º Batalhão da Polícia Militar do DF – a "Papudinha", prédio militar que fica ao lado dos blocos principais da Papuda.
🔎 Nas últimas semanas, havia rumores de que o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro poderia cumprir pena na Papudinha.
🔎 Moraes, no entanto, decidiu mantê-lo na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde já cumpria prisão preventiva após tentar violar a tornozeleira eletrônica.
STF condena Anderson Torres a 24 anos por cinco crimes
Confira, abaixo, detalhes de como funciona a vida na Papudinha.
A estrutura
O Núcleo de Custódia da Polícia Militar (NCPM) é destinado a:
Militares estaduais que ainda mantêm vínculo com a corporação.
Presos militares aguardando eventual condenação que possa resultar na perda do cargo.
Civis com direito à Sala de Estado-Maior, conforme previsto em lei (ex.: advogados regularmente inscritos na OAB e autoridades) – é o caso de Torres.
O edifício fica a poucos metros das unidades da Papuda para presos comuns, no Jardim Botânico, e tem capacidade para 60 presos.
Até o começo de novembro, 52 pessoas cumpriam pena no 19º BPM.
O batalhão tem oito alojamentos coletivos, compostos por banheiro com box, chuveiro, cozinha, lavanderia, quarto e sala.
Torres, no entanto, ficará em uma cela individual.
Anderson Torres durante segundo dia de interrogatórios no núcleo crucial da trama golpista na Primeira Turma do STF
Evaristo Sá/AFP
Segundo a Polícia Militar, todas essas instalações foram reformadas em 2020. As celas "são ventiladas e passam por higienização diária", segundo a corporação.
Todos os presos podem receber itens de higiene, limpeza, enxoval e roupas definidos pela administração penitenciária, de forma igual para todos.
Também é permitido acesso a televisores e ventiladores, de acordo com o regramento da unidade prisional.
Visitas, leitura e pista de caminhada
Segundo a Polícia Militar do DF, responsável pelo prédio, o 19º Batalhão oferece "condições adequadas, seguras e humanizadas de custódia, em conformidade com a Lei de Execução Penal e demais normas vigentes".
Há, por exemplo, uma área de esportes e uma pista de caminhada exclusiva para os internos.
Os detentos têm direito a visitas duas vezes por semana – o calendário é o mesmo para todos os presos na Papudinha e divulgado com antecedência. "A visita íntima segue as regras da execução penal", completa a PM.
Ainda de acordo com a Polícia Militar:
há atendimento médico periódico, "com consultório próprio e monitoramento contínuo da saúde";
o cardápio de quem está na Sala de Estado-Maior, como Anderson Torres, é "diferenciado" em relação aos dos demais detentos;
é possível usar a leitura e o trabalho para abater tempo de cumprimento da pena;
a Capelania da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros atua diariamente no espaço, "oferecendo apoio espiritual e orientação";
"O tratamento é humanizado e preserva a integridade física, moral e psicológica dos internos, com observância rigorosa dos direitos fundamentais", diz a PM.
Infográfico - Mapa mostra localização da Papudinha, no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.
Arte/g1
A condenação de Torres
Por 4 votos a 1, a Primeira Turma do STF concluiu que Torres participou da organização que tentou impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e promover uma ruptura democrática entre o fim de 2022 e o início de 2023.
Segundo a PF, Anderson Torres atuava em dois "núcleos" que articulavam a tentativa de golpe:
Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral: responsável pela podução, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto à lisura (honestidade) das eleições presenciais de 2022.
Núcleo Jurídico: responsável pela elaboração de documentos e minutas com a finalidade jurídica de e doutrinária de causar a ruptura insitucional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Núcleo de desinformação
Segundo o documento, Anderson Torres participou de um grupo que criou, desenvolveu e disseminou notícias falsas da existência de vulnerabilidade e fraude no sistema eletrônico do país. Os ataques se iniciaram em 2019.
O grupo agia divulgando, em alto volume, por multicanais, de forma rápida, contínua e repetitiva a ideia de que tanto nas eleições de 2018 quanto nas eleições de 2022 foram identificadas diversas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas.
Em 29 de julho de 2021, o ex-ministro participou de live com ex-presidente Jair Bolsonaro para apresentar "indícios" de fraudes e manipulações de votos nas eleições.
Torres também participou de reuniões com a intenção golpista de disseminar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. Na reunião ministerial, de 5 de julho de 2022, o ex-ministro confirmou a narrativa de Bolsonaro e reiterou a necessidade dos presentes propagarem informações falsas sobre a veracidade do sistema eletrônico de votação.
Núcleo jurídico
Anderson Torres, segundo o relatório da Polícia Federal, fez parte do núcleo jurídico composto também por Filipe Martins, Jose Eduardo e Auauri Saad, que agiam com o intuito de planejar e executar o golpe de Estado.
Em 10 de janeiro de 2023, foi apreendido pela PF na casa do ex-secretário da SSP-DF, Anderson Torres, uma minuta de um Decreto que determinava a decretação de um Estado de Defesa no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O documento permitia que o então presidente da república, Jair Bolsonaro, adotasse medidas temporárias para proteger a ordem pública e a paz social em atribuições que dizem respeito ao TSE, a medida é adotada em situações de crise no Estado.
Em depoimento à CPMI que apurou os atos praticados no dia 8 de janeiro, Torres afirmou que nenhum integrante do governo Bolsonaro tinha conhecimento do documento.
"Esse papel não foi para o lixo por mero descuido. Não sei quem entregou esse documento apócrifo e desconheço as circunstâncias em que foi produzido. Sequer cogitei encaminhar ou mostrar para alguém", afirmou o ex-ministro à época.
Porém, mensagens de WhatsApp no celular que estava com Mauro Cid, apreendido pela PF, evidenciam a preocupação de Bolsonaro e do núcleo jurídico referente a apreensão do documento elaborado por Torres.
A minuta foi apresentada, em 7 de dezembro de 2022, aos comandantes do Exército e da Marinha e ao ministro da Defesa no Palácio da Alvorada. Registros do local, apontam a presença do ex-ministro.
O grupo também atuava em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.
Quem é Anderson Torres?
Anderson Torres é um jurista e político brasileiro, nascido em 6 de março de 1976, em Brasília. Ele é formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e possui especialização em Direito Constitucional. Confira os cargos ocupados:
Delegado da Polícia Federal: Torres foi delegado da Polícia Federal de 2001 a 2019.
Secretário de Justiça e Cidadania do Distrito Federal: Em 2019, assumiu essa função no governo de Ibaneis Rocha.
Ministro da Justiça e Segurança Pública: De abril de 2020 a março de 2022, foi ministro da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro.
Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal: Em 2023, retornou ao governo do Distrito Federal.
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